sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Carta para a minha Avó

Hoje, sonhei com a minha avó...vi-lhe o rosto doce, o sorriso meigo, sempre tão cheio de amor por mim.
Sinto tanta saudade dela, talvez por isso eu esteja tão nostalgica...lembrei-me de uma carta que lhe escrevi, (os papeis e a caneta, sempre foram os meus companheiros, em momentos ora felizes, ora conturbados da minha existencia...) uma carta, que 3 anos depois trouxe a minha resposta...uma filha, que preencheu a minha vida de Luz!

Já passaram 6 anos, seis longos anos, e parece que foi ontem que te perdi. A dor e a saudade são teimosas. Tenho alturas, em que só anseio poder juntar-me a ti…voltar a sentir as tuas mãos longas e macias, afagarem-me o cabelo, rever a ternura do teu olhar e a tua voz baixa e melodiosa, nas repreensões à “tua menina”…a menina que tu deixas-te tão pobre… pobre e estéril…
Nunca quiseste que eu fosse mãe, pelo medo que tinhas que eu pudesse sofrer, como o que tu sofreste com o nascimento da minha mãe.
Afinal hoje… já sou mãe… de filhos paridos por outro ventre, um ventre de entranhas podres, que entregou ao alheio… os seus frutos…mas que eu zelo e protejo ciosamente, porque eles Avó… não têm culpa de terem nascido.
Serei eu mãe também um dia?... é a pergunta que me martela e que eu temo não ter resposta…
De onde estiveres avó, se é que me podes ver… reza por mim, pede a esse Deus em que tanto acreditavas, para me dar força para esta espera…da realização do me maior desejo, ser Mãe.
Os anos passam e pesam, e mês após mês, eu morro um pouco, numa agonia lenta e calada…
Hoje, pior que ontem, hoje, amanhã e no futuro, sem piedade…a minha condição de Mulher vai murchando…a casa tem os risos dos filhos que não são meus de verdade.
Será que o meu pedaço de raiz…nunca entrará nesta casa tão cheia… e tão vazia ao mesmo tempo?…
Existe Sol… mas falta o meu, um Sol que dê flores só a mim, que eu carregue nove meses e sinta mexer, que me chame Mãe…
Reza minha querida Avó, reza a Deus pelo milagre de eu dar vida a outra vida…
Ajuda-me Avó, por favor… como sempre fizeste, de cada vez que eu tinha uma aflição e deitava a cabeça no teu colo e tu calmamente me fazias adormecer.
Um beijo minha avó… até sempre… um dia voltarei a adormecer no teu colo, embalada pelo teu Amor.

Janeiro 1981

2 comentários:

  1. Tanta ternura amiguinha, sempre distribuiste tanto amor, espero que Deus te recompense de igual modo, tu bem o mereces.
    Um bj
    Maria

    ResponderEliminar
  2. Parece que Deus te fez a vontade e te presenteou com uma filha magnifica...
    Ela é a opinião de Deus de que a Vida continua.
    São assim os filhos. Uma espécie de legado que Ele deposita em nossas mãos. Um testemunho que nos compete entregar "mais à frente"...

    Alquimista

    ResponderEliminar