segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

CONTO... "O FINAL DO ANO DE MARIA…"


O fim do ano estava a chegar e o telefone já tinha tocado várias vezes com convites para não ficar em casa.

Mas Maria foi declinando, com a sua simpatia habitual todos.

Há muitos anos que estava sozinha e com o avançar da idade, cada vez menos lhe apetecia ir a contra gosto, só para ser agradável…

A vida tinha sido para ela mais madrasta que mãe, mas mesmo assim continuava a ser otimista e sem traumas.

Tinham-na “castrado e cerceado” toda a vida nos pequenos prazeres que podia ter tido … Agora já era tarde para poder vivê-los.

Embora algumas vezes se sentisse sozinha, convivia perfeitamente com a solidão, ela era a sua confidente…

Já podia ter refeito a vida, mas nunca o quis fazer.

Maria sorriu e recordou a velhinha canção da Mara Abrantes…”quem eu quero, não me quer…quem me quer, mandei embora…”

O destino tinha-lhe pregado uma partida, mas essa mesma partida fê-la sentir-se viva!

A falta de sinceridade nos afectos era coisa que a continuava a magoar, mas ela não era ninguém para tentar modificar o feitio das pessoas.

Sabia perfeitamente quando lhe davam desculpas esfarrapadas, mas fingia que acreditava.

Os filhos criticavam-na por ela se isolar cada vez mais e insistiam constantemente para ela sair.

Mas Maria respondia-lhes com a ternura habitual:

- Aproveitem vocês a vida meus queridos, já que eu não o consegui fazer!

E eles, embora não desistissem, sabiam que a Mãe quando dizia que não, era não mesmo.

Os fins de Ano para ela, eram altura de reflexão e balanço.

Se não podia estar com quem gostaria, então era melhor ficar tranquilamente sozinha.

Afinal era um dia igual a tantos outros, a diferença era que à meia-noite mudava o ano.

E quando as doze badaladas soassem, Maria iria pedir a Deus, como sempre fazia, que o Novo Ano trouxesse Paz, Saúde e Felicidade para todos os que amava, e que a solidariedade e o amor não fossem palavras vãs.

Recordaria todas as ausências com saudade, mas sabia que todos faziam parte de uma constelação de estrelas brilhantes com um espacinho para a acolher um dia.

Se todos dessem um pouco de si ao próximo, certamente que o Mundo seria bem melhor.

Maria era uma sonhadora, sabia que isso nunca seria possível, mas continuava a acreditar e a sonhar com um Mundo Melhor.


A todos os meus leitores que ao longo destes anos por aqui foram passando e deixando os seus carinhosos comentários, os meus desejos sinceros que 2016 vos traga tudo o que de bom merecem.

Um imenso beijinho e um obrigada pela vossa presença, sem vós este blogue não teria nenhum sentido.






quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

UMA CARTA PARA O ALÉM...

Mais um ano que passa, mais um Natal que se aproxima…
A época da magia há muito que passou, hoje é o tempo da nostalgia e de uma saudade solitária e não partilhada.
Só eu sei a falta que tu me fazes…
Só tu sabes, porque to revelo, nas longas horas que passamos a conversar...
Recordações de uma vida.
A tua tão breve, mas tão rica e de uma alegria contagiante.
A minha já tão longa, perde o brilho dia a dia no vazio das horas silenciosas…
Quantas vezes adormeço e desejo acordar perto de ti e voltar a sentir aquele abraço imenso que tu me davas cada vez que chegavas.
Já não temos “miúdas” temos duas mulheres lindas que são a extensão uma da outra, tal e qual nós eramos.
Elas seguem o seu rumo sempre juntas, parecem gémeas.- Tu és a recordação presente, eu sê-lo-ei um dia.
Seremos uma fotografia lado a lado para onde ambas olharão com ternura.
Tenho saudades de uma mesa repleta de gargalhadas…
Com um sorriso no meio das lágrimas, estendo as minhas mãos em direcção ao céu para te afagar o rosto.
Até um dia meu irmão…Bom Natal!