Embora eu ache que o "Natal" deva ser 365 dia por ano, e não apenas 24 e 25 de Dezembro, que amar o próximo e a solidariedade é uma "obrigação" diária , porque os Sem Abrigo e as pessoas carenciadas são cada vez mais...deixo-vos um conto de Natal, com o desejo sincero de FESTAS FELIZES!
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Chovera
toda a noite. As ruas eram autênticas ribeiras, arrastando na enxurrada toda a
espécie de detritos. Os carros passando a alta velocidade espalhavam,
indiferentes, água suja sobre os transeuntes, molhando-os e sujando-os.
O
Pedrito seguia também naquela onda humana, sem destino. Tinha-se escapulido da
barraca, onde vivia. Os pais tinham saído cedo para o trabalho, ainda ele
dormia.
Ele
desceu à cidade, onde tudo o deslumbrava. Todo aquele movimento irregular,
caótico, frenético. Os automóveis em correrias loucas, as gentes apressadas nos
seus afazeres. E lá seguia pequenino, entre a multidão, numa cidade impávida,
indiferente, cruel mesmo.
Passava
em frente às pastelarias, olhava para as montras recheadas de doçuras, ele comera
de manhã um bocado de pão duro e bebera um copo de água. Vinha-lhe o aroma
agradável dos bolos, o seu pequeno estômago doía-lhe com fome!
Chovia
agora mansamente, uma chuva gelada, levando uma cidade onde se cruzavam o
fausto, a vaidade, o ter tudo, os embrulhos enfeitados das prendas, com a dor a
melancolia, o sofrimento, o ter nada e no meio uma criança triste e com fome!
Mas
o Pedrito gostava era de ver as lojas dos brinquedos. Lá estavam os carros de
corrida, o comboio, os bonecos, enfim todo um mundo maravilhoso que ele vivia,
esborrachando o nariz sujo contra a montra. Lá dentro ia grande azáfama nas
compras de Natal. E os carros de corrida, o comboio, os bonecos eram
embrulhados em papeis bonitos para irem fazer a alegria de outros meninos.
Uma
lágrima descia, marcando-lhe um sulco na sujidade da carita. Eis que os seus
olhos reparam num menino, que de lá dentro o olhava.
Desviou-se envergonhado. Não gostava que o
vissem chorar. E afastou-se devagar, pensando nos meninos que tinham Natal,
guloseimas e carros de corrida para brincar. Ele nada tinha, além da fome e a
ânsia de ser feliz e viver como os outros. Pensou no Natal, no Menino Jesus,
que diziam que era amigo das crianças a quem dá tudo. Por que é que a ele o
Jesus Pequenino do presépio nada dava?
De
repente, uma mãozinha tocou-lhe no ombro. Voltou-se assustado. Era o menino da
loja que lhe metia na mão um embrulho bonito. À frente a mãe, carregada de
embrulhos, fazia de conta que nada via.
Abriu-o
e deslumbrado viu um carro de corridas, encarnado, brilhante, como os olhos do
menino que lá ao longe lhe acenava. Ficou um momento sem saber o que fazer, mas
depois largou a correr, mostrando bem alto a sua prenda de Natal.
Parara
de chover. O sol tentava romper as nuvens escuras, lançando um raio de luz
brilhante e quente sobre o Pedrito, que ria feliz, numa carita sulcada pelas
lágrimas."