quinta-feira, 7 de julho de 2011

UM PEQUENO ALMOÇO…

Faço todos os dias o mesmo caminho, passo estugado, sem tempo para reparar em nada que não seja na hora de entrada para fazer 7 horas em frente a um pc com dezenas de papeis à volta…
Quando me levanto penso, mais 1 dia igual… mais do mesmo…como eu gostava de não ouvir este despertador às 7,30h, para cumprir um ritual já lá vão 42 anos!
Tanta coisa bonita para me preencher e não vejo a hora de pelo menos tentar fazê-las.
Mas hoje nada foi igual…ao andar naquela rua cheia de gente apressada, indiferente e de rostos fechados, ouvi uma vozita a dizer num português atabalhoado – TENHO FOME..AJUDA - .
Parei, aquela voz angustiou-me e procurei com o olhar o sítio de onde vinha aquele apelo!
E viu…meio palmo de gente – não tinha mais de 5 anitos – sujo, uns olhos enormes, suplicantes e doces, mas com uma tristeza que doía.
Fui ter com ele e perguntei-lhe, tens fome? (pergunta palerma a minha, mas é o que vem a cabeça na altura), disse que sim com a cabecita.
Pensei, que se lixem as horas… peguei-lhe na mãozita pequena e lembrei-me das mãos da minha filha, quando senti o calor daquele aperto na minha…
Levei-o para a pastelaria, onde tinha tomado o café momentos antes e pedi um copo de leite, uma sandes e um bolo – e ele agarrado à minha mão –.
Enquanto a empregada preparava o que eu tinha pedido, sentei-o numa mesa, e ouvi em jeito de critica de uma cliente atolada em pulseiras …”este País é um caneiro, caem cá os maltrapilhos todos de leste”…aquela criança não era portuguesa, porque perguntei-lhe o nome e ele não deve sequer deve ter percebido, provavelmente apenas lhe ensinaram 3 palavras…TENHO FOME – AJUDA!
Não respondi à criatura, mas não sei que olhar fiz, que ouvi alguém dizer “aquela se fala mais, leva”, vontade não me faltou de dar um estalo naquela perua, mas a comida chegou à mesa e eu sentei-me a beber outro café e a ver a sofreguidão com que aquele pequeno almoço era devorado…
E lentamente aqueles olhar enorme e doce, sorriu, não foi a boca, foram os olhos!
Aqueles olhar falava e sorria… Meu Deus o que uns olhos tão tristes minutos antes conseguiam transmitir ao sentir o conforto dos alimentos…
Tirei-o da rua em silêncio e voltou a rua em silêncio com um beijo e um pequeno almoço, só os olhos falaram devolvendo o amor que tinha acabado de receber.
Aquele catraio não me sai do pensamento…Deus permita que eu o possa voltar a ajudar de novo.
Apenas consigo pensar…”E AS CRIANÇAS SENHOR, PORQUE LHES DAIS TANTA DOR, PORQUE PADECEM ASSIM!!!”.

2 comentários:

  1. Para mim, este foi o mais belo texto que li neste blogue. Podia por-me aqui a debitar opiniões sobre caridade e injustiças sociais e deserdados e outros chavões. Prefiro ficar em silencio a pensar e a fazer um acto de contrição, porque todos nós temos culpa.
    Um dia Martin Luther King disse:"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."

    Um abraço...

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  2. Labirinto de Emoções8 de julho de 2011 às 01:43

    Obrigada pelas tuas palavras, são os pequenos nadas que fazem o Sol brilhar em dias que se arrastam sempre iguais..)))

    Um beijo...

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