quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

UMA HISTÓRIA...

O dia passou lento, uma sensação estranha de medo estava dentro dela, o cheiro da comida agoniava, nada passava pela garganta.
No final do dia dirigiu-se para o transporte, desejosa de chegar a casa e despir-se de todas as máscaras ficar sossegada no escuro.
Mas deixou passar a estação sem dar por ela, aflita, saiu na seguinte e pensou como é que ia voltar em sentido contrário, passar para o outro lado? O passe não dava para abrir cancelas e ela tinha apenas alguns cêntimos na carteira, nem dava para o bilhete porque o ordenado ainda não estava na conta…
Rezou e encaminhou-se para a saída e felizmente aquela estação desconhecida não tinha cancelas… com as pernas a tremer deu meia volta para o outro lado e não teve outra solução se não esperar quase uma hora pelo regresso.
Já sentada e com muito frio, devido ao seu mal estar, pegou no telemóvel… mas desistiu, não valia a pena dizer nada, há muito que ele estava em silêncio e aqueles pequenos nadas antes partilhados já não tinham sentido.
Chegou a casa e no escuro deitou-se. Uma noite longa indisposta, com um peso estranho no estômago e no coração.
Levantou-se mais cedo que o habitual para cumprir os deveres que o seu amor e a sua condição de filha lhe exigiam. A mãe achou-a pálida, mas ela de novo disfarçou, habituada que estava, por fazê-lo noutras situações.
Ela nunca tinha pressa para o regresso, mas naquele dia só queria voltar para o seu “reduto”, não se sentia nada bem, o medo não a largava, a pouca família estava toda fora nesse fim de semana, e os amigos… esses também não os queria incomodar.
Sentou-se no sofá, já estava a anoitecer, olhos fechados, já nem lágrimas tinha para chorar aquela sensação de abandono que sentia.
Começou a gelar e sentiu de novo medo, percebeu os sintomas, o vómito aproximou-se e meia trôpega só teve tempo de chegar ao lavatório, para litros de água meia ensanguentada saírem…
Desta vez tinha mesmo de ir ao hospital, e o medo dos “tubos” que se avizinhavam aterrou-a. Sentiu-se frágil e sozinha, só pedia a Deus força para mais aquela caminhada no deserto.
Estava sem dinheiro, mas lembrou-se do seguro de saúde que tinha, pago pela empresa e chamou uma ambulância que a levou para a Cruz Vermelha…
A Caminho do hospital pegou nos telemóveis e foi lendo e ouvindo o que por lá tinha guardado, lágrimas amargas queimaram-lhe o rosto, mas logo as secou – tinha jurado não chorar mais – o mundo estava a fugir-lhe debaixo dos pés e ela não percebia o porquê!
Lá foi observada, veias picadas para as análises e, a dolorosa endoscopia e biopsia feita.
A úlcera voltou. Abriu de novo, os nervos acumulados pelas muitas situações dolorosas tinham feito de novo estragos.
Como disse que vivia sozinha e aquilo era um hospital privado, não a deixaram sair, passou a noite no SO – se não fosse o seguro de saúde teria que ir para um publico e recambiada logo de seguida para casa – .
Sedaram-na para ela adormecer, mas o seu último pensamento foi para a filha e para as saudades que tinha de sons que não ouvia há muito.
Regressou no dia seguinte - com tempo contava à família – veio acompanha da anemia pelo sangue perdido e uma bateria de drogas para tomar e, aguardar o resultado da biopsia que foi feita por precaução! Esperam-se resultados.
A Vida vai continuar, foi mais um episódio que Deus lhe destinou, o caminho dela vai prosseguir até à próxima paragem, não há como fugir do destino que lhe foi traçado.

3 comentários:

  1. Quantas vezes a realidade ultrapsssa a ficção. A solidão e o abandono de amor muitas vezes são o rastilho para situações de grande angústia que desaguam em maleitas fisicas. Todas temos algumas mas devemos pedir força para conseguirmos ultrapassá-las. Um grande beijinho Teresa.
    Tété

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  2. Olá Teresa,
    já percebi que estiveste doente amiga :(

    Cuida-te bem e cuidado com a alimentação... e o stress que é um dos factores muito precipitante para essas ulceras malvadas!!! Rsssssssss

    Beijinho grande.

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  3. Ah este poeta das confusas palavras
    Cantador de todas as canções de tristeza
    Trovador vestido de arlequim trapeiro
    Fazendo vénias a uma imaginada realeza

    Que diz palavra sobre palavra
    Às vezes fica mudo com um olhar de dor
    Dos seus lábios escorrem sons sem sentido
    Porque…Às Vezes Há Palavras Que São Como Fazer Amor…

    Doce beijo

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