quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O NATAL...

O Natal aproxima-se de Novo… A época da hipocrisia institucional por excelência…
Vão voltar as tendas para acolher os sem abrigo, as festas para angariações dos brinquedos e roupas para os Filhos de um Deus Menor, as visitas aos lares, onde durante todo o ano se depositaram os idosos e muitos por lá ficaram esquecidos durante grande parte dos 12 meses do ano!!!
Natal deveria ser 365 no ano e não apenas 24 e 25 de Dezembro.
A recordação não de um, mas dos 60 natais que eu já vivi, será suficiente para eu escrever uma história?
Filha da cidade, por cá me arrasto e fui cumprindo algumas das nossas tradições comuns e repetitivas sempre.
Tenho algumas recordações bonitas desta época que ficaram em mim.
A ansiedade de criança, das noites mal dormidas, a prece dos meus natais de miúda, que se cumpriam em duas etapas.
A primeira em casa da avó na véspera, onde se cumpria a tradição da “procissão do pé descalço” - todos colocávamos 1 sapato na arvore  - depois éramos recambiados para um quarto ansiosos que o Pai Natal chegasse… quando a avó achava que já era tempo suficiente, íamos em fila indiana com o mais pequeno na frente, que era sempre o meu irmão Zé Luís e no final da fila a avó…um pé calçado e o outro descalço, lá chegávamos a sala ansiosos, e encontrávamos cada sapato com as respectivas prendas em volta deles … noites de encantamento, enquanto acreditamos na vinda do Pai Natal! – eu mantive essa brincadeira depois de casada enquanto tive crianças à minha volta - .
De seguida o regresso a casa, onde eu e os meus irmãos, colocávamos de novo os sapatos, desta vez na chaminé.
Em cima do fogão um papel de seda cor de rosa, com o meu, e dos lados os dos meus manos em cima dos respectivos papeis azuis.
Deitada, cerrava os olhos com força e o sono não vinha e no silêncio da casa eu continuava acordada, no escuro desejava ardentemente que fosse manhã, para ir recolher os meus desejos, que eram sempre pequeninos, porque a abundância era pouca, e nós sabíamos isso.
Mal o dia clareava corríamos para cozinha, e lá regressávamos para a cama ainda quente, com os nossos desejos feitos brinquedos.
Passaram os anos.
E eu aos vinte e seis anos fui “mãe” de filhos que não pari, mas que abracei como tal e durante 5 anos ate a minha Joana chegar e depois até ela ir para a escola, idade em que deixou de acreditar no Pai Natal, eu ia ouvindo os anseios dos meus filhos com os seus pedidos para o Natal.
E lá ia eu comprando,  fazendo e escondendo os embrulhos das pequenas coisas que ia conseguindo amealhar, era uma época em que eu me sentia feliz e ansiosa por ver as suas caritas e o rasgar dos papeis e dos laços. Mantive,  como me faziam a mim em criança a tradição da casa da Avó da “procissão do pé descalço”.
Revejo os seus olhos brilhantes e despertos,  excitados e felizes, eu esquecia naqueles momentos as agruras, os desgostos e os insultos de que era alvo o ano inteiro… isto enquanto tive crianças que acreditavam no mistério dos presentes do Deus Menino, isso tornava felizes os meus Natais!
Agora tudo é diferente e eu também.
Vejo chegar o tempo de Natal, as perdas ao longo da vida foram muitas e eu sinto-me carregada de inquietações, já sem presentes de crianças para dar ou receber, recusando-me a participar na caridade bem comportada que espera disciplinadamente por esta época para se mostrar…
Vivemos num mundo cheio de destinos aflitos, os pobres ficam cada vez mais pobres e eu sinto medo dos humilhar com a minha esmola mascarada, porque sei, sabemos todos, que a miséria e solidão afligem a humanidade – não toda, mas alguma -  todos os dias de todos ao anos que passam.
É por isso que sem hipocrisias nem presentes, eu estendo apenas as minhas mãos vazias e o meu coração cheio de amor.


2 comentários:

  1. Um texto muito bonito que eu li devagar...e me ia lembrando dos meus natai na aldeia...depoder chegar à soleira da porta e , meia gelada, olhar o céu estrelado...
    Que saudade!
    E sim, tens razão...hoje há só hipocrisia..nada é vedadeirament sentido...
    Lamentavelmente...

    Um abraço
    BShell

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  2. Olá Labirinto de Emoções,
    detesto esta época natalícia... nunca gostei, nunca me disse nada. Em Moçambique era calor, em Portugal é o frio... vês a ambivalência? pois é, nada me diz!

    Beijinho grande.

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